quarta-feira, 27 de julho de 2011

Isa: a Terceira Carta para Cris

Carta Memória (III): Por Isa Jinkings

Um pouco da história da Livraria Jinkings.

Tudo começou no dia 29 de outubro de 1945, dia em que Getúlio Vargas foi deposto. Nesse dia, Raimundo Antonio da Costa Jinkings chegava a Belém. Tinha 18 anos e veio com alguns amigos para se inscrever na Aeronáutica. Sua vida daí por diante foi uma sucessão de batalhas. Fora um menino pobre que enfrentara toda sorte de dificuldades. Fez curso e tornou-se Cabo da Aeronáutica, depois passou a trabalhar como enfermeiro, após aprovado num curso.

Foi assim, já como civil, que me conheceu, em 1949. Morava na Almirante Barroso e ia diariamente me esperar à saída do Instituto de Educação. Namorávamos num banco da Praça Batista Campos até a hora em que ele ia para o ginásio Pará-Amazonas, no primeiro curso noturno que inaugurara em Belém. Quando abriu concurso para o Banco da Borracha,, hoje Banco da Amazônia, ele se inscreveu. (Foi minha mãe que o estimulou). Aí começamos a estudar, juntos. No banco da Praça, aproveitávamos todo o tempo de que dispúnhamos e estudávamos português, matéria que eu dominava. Nosso livro preferencial era “Correção de frases e textos”, de A. Tenório de Albuquerque. Matemática ele estudava sozinho. O Banco da Borracha era um dos mais ambicionados empregos do Pará. Pagava melhor que o Banco do Brasil. Havia advogados, professores, profissionais de diversas áreas inscritos. E o caboclinho de Santa Helena, cursando o ginasial, foi aprovado com uma das notas mais altas, com honroso 4º lugar em Português. O tema da redação foi “A importância da navegação fluvial no desenvolvimento da Amazônia”, e ele estava justamente estudando no ginásio a bacia amazônica.

No dia 26 de janeiro de 1951 ele passou a ser um bancário do Banco da Borracha.

No “Pará-Amazonas”, Jinkings, Roberto Uchoa, um negro admirável, e Tomé Castro tornaram-se grandes amigos. Na colação de grau de humanistas, os mais de 50 formandos escolheram o Jinkings como orador da turma. Tenho seu discurso, uma de minhas relíquias.

Em 1952 entrou para o “Paes de Carvalho”, no 2º grau, e foi eleito para a diretoria do Centro Cívico Honorato Filgueiras, e presidiu a comissão que elaborou o Regimento Interno do Conselho. Ainda no encerramento do ano no Pará-Amazonas, os três amigos – Jinkings, Roberto e Tomé – ingressaram no Partido Socialista, fundando o Núcleo Estudantil em Defesa do Petróleo. Eleito o Diretório Estadual desse Partido, com Cléo Bernardo na Presidência e Jinkings como Secretário Executivo, nomes como Benedito Nunes, Julio de Alencar, Oswaldo Mendes, Alberto Bendahan, Raimundo Cavalero de Macedo, Cláudio Sá Leal, Jaime Barcessat(valoroso companheiro que morreu muito jovem), Oiram Ribeiro(outro que também morreu cedo), Irapuan Sales e outros, entre os quais jornalistas, operários, estivadores, estudantes, compunham o novo e revolucionário partido.

Na noite de Ano-Novo(1951/1952) meu amor entrou, lindo, em nossa sala toda iluminada onde meus pais, solenes, o receberam e o ouviram pedir minha mão em casamento. (As coisas antigamente eram tão mais românticas...).

Líder nas campanhas dos bancários, fazia piquetes nas greves e desenvolvia intensa luta sindical.

Foi também um dos organizadores do 1º Congresso Regional Norte de Defesa do Petróleo e iniciara sua carreira de jornalista. Escrevia semanalmente na “Folha do Norte”, no “Flash” e no “Estado do Pará”. Eu era co-partícipe de seus artigos.

Dia 2 de maio de 1953 foi o nosso casamento. Ele continuava estudando à noite, já então na “Fênix Caixeiral Paraense”, e se mantinha como jornalista.

Em 1954 nasceu nossa primeira filha, Nise Maria. Ele não entrava na sala de parto, em nenhum dos nascimentos de nossos filhos(ficava na ante-sala, nervoso, andando de um lado para o outro). Era minha mãe quem ficava segurando minha mão, e eu não imaginaria ter um filho sem aquela energia de sua mãozinha me transmitindo tanta bondade. Minha mãe contou que, quando veio correndo dar-lhe a notícia, ele chorou de emoção. E eu nunca vi um pai mais enlouquecido de amor. Ainda no hospital ele agarrava, beijava aquele pedacinho de gente.

A primeira camisinha dela foi feita da fralda de uma camisa do pai; era era tradição. Seu nome: eu tinha dado de presente a ele o livro de Graciliano Ramos “Memórias do Cárcere”, em 4 volumes, que ele classificou como o mais importante livro de memórias que conheceu. Conversávamos sobre o livro quando nossa filhinha nasceu, e combinamos de dar-lhe o nome da admirável Nise da Silveira, companheira de cárcere de Graciliano Ramos, e sobre quem ele se referia com muita admiração e respeito. Quisemos homenageá-la, além do nome ser tão bonito.

No dia 31 de maio do ano seguinte aconteceu nossa primeira separação, tremendamente dolorosa. A causa foi esta: Gabriel Hermes era presidente do Basa e candidatou-se a deputado federal. Então transformou o Banco em instrumento político partidário, inescrupulosamente. Jinkings, jornalista habituado a denunciar esse tipo de atitude, denunciou severamente esse fato, mesmo se tratando do presidente do Banco onde trabalhava. A punição veio logo em cima: foi transferido para o Acre, a pior agência do Banco, conhecida por suas endemias, entre outras desvantagens. Logo depois Gabriel perdeu a presidência, e Jinkings, que já havia lançado mão de inúmeros recursos, pelo menos teve a transferência mudada para São Luiz, como gerente, o que de certa forma era uma promoção. Nossa segunda filha, Leila, estava a caminho. Ele voltou para o nascimento de nossa Leila Maria. Um mês e meio depois eu viajei com nossas duas filhinhas, e ficamos novamente juntos, numa linda casa onde permanecemos por três anos. Lá nasceram, nos dois anos seguintes, nossos dois homenzinhos, Raimundo Antonio Filho e Álvaro Lênin. Com quatro anos de casados tínhamos quatro filhos. Eu tinha 23 e ele 29 anos. E éramos muito felizes.

Então ele foi insistentemente convidado a assumir a gerência da agência de Bacabal, que atravessava sérios problemas, com um gerente irresponsável e sem escrúpulos.

É indescritível, e impossível de esquecer, o carinho e o respeito com que fomos recebidos. Todos se encantaram com nossa simplicidade. Fomos mimados, fizemos grandes amigos.

Em 1959, fomos contemplados pela Caixa de Presidência do Basa com o financiamento para construção de nossa casa, em Belém.

Foi difícil nossa despedida. Vi muitos de nossos amigos chorando, desde os mais graduados até os mais humildes, nossos vizinhos com os quais costumávamos sentar, à noite, ouvindo-os lerem os livrinhos de cordel e a narração de histórias de assombração, crendices, fantasias inocentes que encantavam a gente. Nossos quatro filhinhos, às sete da noite já dormiam. Após o jantar, em suas caminhas, cada um com um livro de história(aqueles livros coloridos que mandávamos buscar pelo reembolso postal junto com os que pedíamos para nós, e que assim se iniciava o amor deles pela literatura), assim todos adormeciam. E então tínhamos o tempo exclusivamente pra nós dois – namorávamos, líamos, ouvíamos música, mutias vezes ele lia poesias pra nós dois; ou sentávamos à porta com os vizinhos.

Um episódio inesquecível que mostrou o quanto aquela gente amava o moço simples e generoso que chegou de repente, com sua família(todos me adotaram também, me admiravam como mãe e companheira, “tão menina”, diziam). Pois é, esse moço que introduziu um novo conceito, de competência e honestidade, na forma de gerenciar o único Banco da cidade. O gerente do Banco era a maior autoridade num município onde circulava muito dinheiro, onde viviam fazendeiros e os maiores usineiros(beneficiadores de arroz, que era o principal produto) do Estado, fornecedores para o resto do país. Estavam fartos de ser extorquidos pelo gerente anterior que, além de inconsequente, era arrogante e insensível. Nos fins de semana, fretava um avião e, junto com grandes comerciantes, viajava para São Luiz, onde todos participavam de bacanais e jogatinas. Com as promissoras que assinavam por dívidas de jogo, eram executados pelo próprio gerente do Banco, tendo muitos ficado arruinados. Com todo o cuidado e a determinação de devolver àquela praça a credibilidade e promover o progresso da cidade, o novo gerente reiniciou as operações, e foi como se uma nova era estivesse nascendo.

Bacabal também era palco de violentos conflitos de terras. Políticos e aventureiros de toda espécie haviam-se apropriado de áreas pertencentes ao Estado, grande parte das quais habitadas por nativos que viviam das plantações de suas roças. Pois bem, e é aí que entra o episódio inesquecível a que me referi: certo dia uma passeata de homens, mulheres e crianças, aqueles pequenos agricultores, que haviam sido brutalmente expulsos de suas casas, parou em frente ao Banco pedindo a ajuda de seu gerente. Os líderes já o conheciam por participações anteriores em centros de trabalhadores. Ele imediatamente se mobilizou, entregou o Banco ao subgerente e, como minha mãe estivesse conosco, ele me apanhou e fomos juntos contratar um advogado. O “proprietário” da área atingida era um importante cliente do Banco, chamado Nicanor, e havia usado de violência inominável, com capangas que, despejando as famílias de suas casas, ao mesmo tempo incendiavam tudo, queimando os pertences daquela pobre gente.

O processo correu rápido, e Nicanor foi obrigado a devolver as terras. Mas, com muito ódio, usou de sua influência junto à Direção Geral do Banco, conseguindo que Jinkings fosse removido de Bacabal. Ele imediatamente foi a Belém para esclarecer os fatos, e não sabia que os comerciantes e a população em peso haviam feito um abaixo-assinado, que exigia sua permanência e que uma comissão foi em seguida entregar pessoalmente ao Presidente do Banco, em Belém. O movimento foi tão forte que a Direção do Banco retrocedeu e o manteve no cargo, ainda mais respeitado e fortalecido.

Seu retorno, sua chegada a Bacabal foi emocionante, uma apoteose. Foi decretado feriado no município, e uma multidão se dirigiu ao ponto do ônibus, que fazia a linha São Luiz-Bacabal. Eu o estava esperando, com nossas crianças, e então fomos todos colocados em um carro aberto e foi feito um desfile, com carros, bicicletas e pessoas a pé, que se encerrou no Bancrévea, onde um almoço fora organizado, democrático, de portões abertos.

O incendiário Nicanor desapareceu de Bacabal.

Quando nos despedimos de nossos amigos, trouxemos e deixamos muitas saudades. Mas tínhamos a sensação de volta ao lar, à família, a nossa Belém querida.

Em Belém iniciamos a construção de nossa casa. Na casa ao lado moravam minha mãe e minha irmã Helena.

Nossa caçula, Ivana Maria, nasceu quando estreávamos a casa nova.

A situação política se complicava: em agosto de 61 a renúncia de Jânio Quadros, a resistência contra a posse de Jango com tentativa de golpe militar, abortado pela reação dos democratas e dos setores progressistas das Forças Armadas.

Nos anos seguintes, intensas lutas políticas, fortalecimento dos sindicatos. Em 63 foi criada a Primeira Central Sindical – o CGT – (Comando Geral dos Trabalhadores) e foi Jinkings, unanimemente, eleito Presidente do CGT. Combativo, idealista, essa foia a época em que o sindicalismo teve mais força no Pará.

Em 64 quando, no memorável comício de 13 de março, no Rio, Jango aprovou as Reformas de Base, pelas quais a esquerda, os patriotas tanto lutavam, Jinkings estava presente, e poucas vezes o vi tão vibrante.

Aí se criou o estopim para o golpe, que há tempos vinha sendo preparado pelos generais, nos cursos de tortura coordenados por Jarbas Passarinho, nas infiltrações dos espiões nas universidades, nos sindicatos, nas tramas dos “lenços brancos”.

Na noite de 31 de março, o Jinkings, após presidir reunião do CGT, em Assembleia permanente com a massa de sindicalistas, veio a nossa casa se despedir e entrou para a clandestinidade.

Me trouxe um rádio para que eu melhor acompanhasse os acontecimentos. Fiquei com nossos cinco filhinhos, que já dormiam, enquanto eu ouvia o noticiário, acompanhava a reação do povo, no Rio, a rádio da legalidade comandada por Leonel Brizola, e entrei pela madrugada inclusive ouvindo o discurso de Jango, até quando sua voz calou e a rádio noticiou que ele havia partido para o Uruguai. Não dá pra esquecer esse momento trágico; eu soluçava sozinha e pensava nas nossas crianças, e em nossos jovens, nos milhares de lutadores que passavam a rer destino incerto.

Para vergonha deles, era 1º de abril, e nenhuma mentira jamais foi tão tenebrosa, a de que eram salvadores da Pátria...

O golpe militar violento, sanguinário, evoluiu para a ditadura que infelicitou o Brasil e manchou indelevelmente nossa história por dolorosos 20 anos.

Já relatei, talvez, por alto, a prisão do Jinkings.

Ao sair da prisão, ele precisava urgentemente de trabalhar. Conversamos muito, e combinamos, ajudados pelo companheiro Sandoval Barbosa, também atingido, montar uma barraca na feira livre de Batista Campos. Eu passei a fazer docinhos que nossos meninos, Toninho e Valico, com sete e seis anos, vendiam na feira, cada um com seu tabuleirinho. Quando eles estavam na escola, eu atendia na barraca. Nossos amigos todos correram a comprar conosco, o que é uma das lembranças mais bonitas que guardamos, e um testemunho do que seja solidariedade.

Todos esses acontecimentos, eu acho, são como preliminares, explicam o nascimento da livraria, suas primeiras sementes. Como tínhamos o hábito de ler, desde crianças, e introduzimos entre as crianças esse hábito desde bem pequenas, costumávamos usar o serviço de Reembolso Postal para nos mantermos atualizados.

Enquanto sobrevivíamos como feirantes, Jinkings escreveu a diversas editoras, das quais já era um enorme conhecido, oferecendo representação em Belém. Foi uma ideia muito inteligente. Não tardaram a chegar as respostas. A primeira que nos respondeu, pela qual sempre guardamos um carinho especial, foi a Brasiliense, do grande Caio Prado Júnior, e cujo primeiro idealizador e fundador havia sido o genial Monteiro Lobato. Seguiram-se outras, e mais outras, até a ponto de termos que recusar algumas.

Registramos a RA Jinkings Representações. O Pará era carente de livros. A demanda foi tão grande, que em poucos meses passamos da representação ao varejo. E isso tudo em nossa casa, que virou como que um mercado aberto, um mercado cultural. Livros se espalhavam pelos sofás, pelas cadeiras, empilhados no chão. O trabalho de divulgação foi absolutamente pioneiro, nunca ninguém fizera trabalho igual – diretamente junto aos professores, em suas casas, nas salas de aula. E as publicações didáticas explodiram, e aí tivemos que contratar os primeiros funcionários, e então compramos duas velhas casas na rua paralela, a Tamoios, ambas confinando com a nossa, pelos fundos, todas com quintais enormes. A bagunça estilizada se transferiu. Num porão abarrotado recebíamos estudantes, professores, artistas, intelectuais que adoravam a bagunça. Era como se caçassem tesouros, e o melhor de tudo é que os encontravam.

Durante anos sofremos as maiores perseguições. Livros considerados subversivos pelos “cultos” policiais eram apreendidos, sistematicamente. Quando finalmente conseguimos construir a livraria, isso só em 1979, com um mês de inaugurada foi metralhada pelo CCC(Comando de Caça aos Comunistas), na verdade uns nazistas. Nossa casa foi atacada mais de uma vez, com pedras e balas. Um carro novo de nosso filho foi incendiado, no jardim de nossa casa. Houve ainda outras prisões, mas nós resistimos sempre.

No 2º pavimento do prédio da livraria criamos o Espaço Cultural – um amplo salão onde passamos a realizar debates, lançamentos de livros, exposições, saraus; e no qual, em 1982, foi lançada a FDO – Frente Democrática de Oposição – com manifesto, declaração de princípios e apresentação de candidatos às eleições de 82, lançando para governador Jader Barbalho.

A FDO, que abrigava todos os democratas, impingiu ao candidato da ditadura, o maléfico Jarbas Passarinho, uma fragorosa derrota.


Cristina,

No Blog do Jinkings há muita informação sobre a livraria. Então que te coloco são as minhas lembranças mais familiares, o aspecto pessoal dos fatos, mais íntimos talvez, muito nossos.
Quanto ao tamanho que ficou, eu te avisei que costumo me estender demais... Podes editar.
Um abraço amigo da Isa.

http://www.morenocris.org/2011/07/memoria-de-jinkings-por-isa-jinkingsi.html#more

terça-feira, 26 de julho de 2011

A Segunda Carta para Cris

Carta Memória (II): Por Isa Jinkings

(Hoje, 02 de maio, há 58 anos, foi nosso casamento).

Cristina,

Quando falei de minha infância não citei, tantas eram as lembranças que se atropelavam, uma pessoa fundamental na minha vida, que me deu tanto amor, tanto, que posso afirmar que fui uma criança privilegiada(na hierarquia da família, ou da filharada de meus pais eu era a penúltima, entre os sete não tínhamos privilégios...). Foi a 'Neme', como chamávamos Noêmia, minha babá, aliás a pessoa que fazia tudo na casa(era já da família, em que meus pais confiavam pra tudo. Tinha trabalhado com meu pai quando solteiro e continuou quando ele casou com minha, a quem se afeiçoou, meio maternal, porque mamãe era muito jovem). Minha mãe contava que uma vez, quando eu tinha um aninho, ela estava na cozinha fazendo o meu mingau, e eu chorando na cancelinha que haviam feito para que eu não passasse, por causa dos perigos. Ao lado da cozinha era a despensa, bem grande, onde ao fundo havia uma tina(tina era uma espécie de barril, baixo e largo, onde se armazenava água). De repente eu parei de chorar e mamãe ouviu o arrastar de meus sapatinhos. Correu, desesperada, e me encontrou mergulhada, roxa, como morta. Ficou enlouquecida, então a Neme me levantou em seus braços em direção ao céu e gritou: 'Valei-me Nossa Senhora de Nazaré!', e mamãe diz que nesse instante eu chorei.

Mamãe a escolheu para madrinha de carregar, e ela sempre se disse 'o meu balaio'. A verdade é que me assumiu inteiramente, foi minha segunda mãe. Me enchia de presentes no meu aniversário; acompanhava o Círio comigo no colo. Com seis anos, eu ainda ia carregada como um bebê na procissão do Círio. Ninguém, nenhum irmão brigava comigo, que ela vinha em cima. Gostava de jogar no bicho, jogava todo dia, e sempre queria saber o que eu sonhava na véspera, para interpretar. Também pedia que eu visse que figuras de bichos as nuvens formavam ou ficava horas deitadinha no chão do pátio no final da casa olhando as nuvens que ora se transformavam num cavalo, num galo, etc. Às vezes(que pecado!) inventava um sonho pra satisfazê-la. E o melhor é que ela de vez em quando ganhava, e me dava um presente. Sempre perguntava o que eu queria, e uma vez eu pedi um boneco, um menino. Ela comprou, era lindo. Tirei as roupinhas dele e tive a maior decepção, porque ele não tinha pinto...

Enfim, esse meu anjo da guarda ainda chegou a conhecer o meu Antonio. Fomos visitá-la juntos, no hospital, doentinha. Algum mecanismo em mim fez com que se apagassem as últimas imagens dela. Não consigo lembrar como morreu. Ainda me parece vê-la, pequenina, doce, me dando na boca uma bolinha deliciosa da comida dela, que fazia com as mãos, e que era muito melhor que a do meu prato...

Mamãe contratava uma pessoa para outros serviços, porque a Neme cozinhava muito bem. Tinha uma Dona Maria, e meu irmão conta que eu estava sentada num tronco, em nosso quintal enorme, falando sozinha: 'Essa dona Maria tem uma parte de sê besta pra minha banda...'

Bom, o que eu chamo de momento mágico aconteceu com um olhar profundo e penetrante, que um moço lindo, de 21 anos, de bigodinho – que, como tantos rapazes, elegantes e sedutores, se encontrava postado à borda da calçada do Largo de Nazaré – fixou na menina loura, de 14 anos, que passeava com sua irmã oito anos mais velha e suas amigas. Era costume, época em que ainda havia coretos maravilhosos nos quatro cantos do largo, as moças passarem pelas calçadas, como se desfilassem, com seus vestidos novos – o que era outra tradição muito forte: todas as moças faziam um vestido pra cada um dos três domingos da Festa.

Aqueles olhos, fixos em mim, me tiraram a respiração, diferentemente dos muitos galanteios e gracinhas de outros, durante o passeio. Uma volta inteira, novamente passei por aquele lugar e outra vez aquele olhar fixo, insistente, parecia falar. Em seguida minha irmã foi me levando para voltar pra casa, e eu estava trêmula, com taquicardia. Fora a última volta, ela disse 'já é tarde'. E era o último domingo da Festa...

Acho que a teia começou aí, ou seus fios se entrançaram mais. (O começo mesmo foi no dia em que, com 18 anos, ele veio do Maranhão para a Aeronáutica, em Belém. Queria ser piloto, mas não havia vagas. Ele ficou, fez um curso, tornou-se cabo, e em seguida deu baixa, fez curso de enfermeiro e foi trabalhar como civil no Hospital da Aeronáutica).

Eu pensava nele, e o procurava nas ruas, no caminho do colégio, nas idas ao cinema. Ele me contou que o mesmo aconteceu com ele, procurava e não tinha ideia de onde me encontrar. Só que ele morava e trabalhava na Av. Tito Franco(hoje Almirante Barroso) e estudava à noite. Era quase como se morasse em outro município. Vinha então à cidade aos domingos, mas não nos cruzávamos. Acho que eu já desistira.

Até que...

Era final de ano e minhas irmãs comentaram sobre uma festa no dia de Ano Novo, que seria das 18 horas a meia-noite. Não sei o que me impulsionou a querer ir também, e comecei a insistir com minha mãe, para quem eu era muito criança pra frequentar festas à noite. Só iria com 18 anos. Eu adorava dançar, mas só ia, aos fins de semana, às matinais dançantes do colégio ou da UESP. Cismei de ir, contra meus hábitos bati o pé e chorei a semana inteira, até comover minha mãe.

E lá fui eu, no dia 1º, felicíssima. Minhas irmãs se espantaram, porque os rapazes logo começaram a me tirar pra dançar, e eu não ficava sentada nunca. Sangue novo...

E numa dança, eu o vi, me desestruturando com aquele olhar. Tentou várias vezes se aproximar e eu já ia saindo com alguém que chegara antes. (Haviam me ensinado que era grosseria recusar uma dança). Aí ele se colocou juntinho à nossa mesa, e me tirou para dançar. E me falou as primeiras palavras de nossas vidas: 'dança a outra comigo?' e já ficamos no salão para a próxima dança, ele segurando a minha mão, meio tímido também. Logo em seguida a festa terminou. Ele chegara um pouco tarde. Com toda a emoção e a minha timidez, tive tempo de lhe falar do meu baile de humanista, no sábado seguinte, dia 8. Que foi também o dia de meus 15 anos, cheio de alegrias e surpresas proporcionadas pela família. Como o vestido azul de tafetá chamalotado, à tarde, pra receber minhas amigas. E o lindo vestido de baile que usaria à noite, e que foi considerado o mais bonito da festa. E como as luzes se apagaram, à meia-noite, no Clube, o bolo lindo que foi trazido pelos garçons à nossa mesa, enquanto a orquestra tocava o 'Parabéns' e depois a valsa, dançada com o presidente do Clube, os meus irmãos, os amigos. Foi um deslumbramento.

(Eu não sabia que no dia 1º ele entrara de 'penetra', com um amigo. Durante essa semana, então, ele moveu mundos e conseguiu entrar de sócio, para não perder o meu baile).

O salão estava superlotado, na hora da valsa. E então ele veio, me abraçou e saímos dançando, e até o final da festa não nos separamos.

Nosso primeiro encontro foi marcado para a tarde de segunda-feira(domingo haveria reunião de parentes em casa) na Praça Batista Campos(praça querida, faz parte de nossa história). Cheguei um pouco cedo, dei uma volta, não o vi e vim caminhando até a esquina da Tamoios para atravessar a rua e voltar pra casa(estava confusa e triste). Parei para esperar o ônibus passar, e vi alguém, no ônibus, levantar apressado, mandar parar e descer à minha frente. (Tinha estado na praça, e não me encontrando apanhara o ônibus para o fim da linha, umas três esquinas depois, também confuso, achando que o tinha enganado, mas querendo tentar ainda me encontrar, na volta).

Não foi mágico tudo isso? Não foi o destino? Que estranho impulso fez com que eu me desesperasse para ir àquela festa dia de Ano? Quem, ou o que, teria feito com que chegássemos os dois, naquele exato momento, como se estivesse cronometrado, ao mesmo tempo, naquela esquina?

Naquele dia, ambos atônitos, teríamos desfeito um sonho. Quem sabe nunca mais nos veríamos. Mas a partir desse dia passamos a nos ver diariamente e seguimos caminhando pela vida, de mãos dadas, até que a morte, e só ela, nos separou, 46 anos depois. E mesmo nesse instante ele estava com suas duas mãos entre as minhas, como se eu o pudesse reter para a vida.

Cristina,

Sei que tua intenção não era que te contasse um romance... Querias que te falasse das lutas que enfrentamos juntos, que enfrentei sozinha quando ele estava na prisão, da criação da livraria, das lutas políticas. Talvez da formação de nossos filhos, dos exemplos que lhes legamos.
Mas foi fluindo, como uma psicografia. Ao lado da minha interminável saudade, acho que me consola um pouco relembrar o quanto fui feliz. Talvez esse mesmo sentimento é que me induz a acreditar, sem infelizmente nenhuma evidência, que não acaba tudo com a morte, que ainda vamos estar juntos num outro plano, que vou rever meus pais, meus irmãos, a Neme...
Considera esta carta como confidências de alguém que te respeita e se tornou tua amiga.
Na próxima vou te contar a história da livraria.
Maria Isa
http://www.morenocris.org/2011/07/memoria-de-jinkings-por-isa-jinkingsi.html#more

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Uma Carta para Cris

Uma Carta de Memória (I), Por Isa Jinkings

Próximo de minha casa está localizada a Livraria Jinkings, cujo dono, Raimundo Jinkings, jornalista, o conheci pessoalmente, bem como, D. Isa, avó de Carol e mãe de Antonio, para dizer alguns que conheço, ainda. D. Isa, 77, esposa de Jinkings, reside atualmente em Florianópolis e nos correspondemos via e-mail, depois de perder a oportunidade de entrevistá-la por cá. Bem, no primeiro momento, esta era a ideia básica. Pedi à avó de Carol que falasse sobre a sua memória de uma Belém que ficou distante e que se distancia cada vez mais no tempo. D. Isa pediu-me meu endereço para mandar(carta) uma correspondência, como nos velhos tempos. E hoje, 31 de março, a recebo, feito um click na tomada, para iluminar o meu mundo. São cinco páginas, 10 no total(frente e verso), datada 24/março, e 29/março, dos Correios.

Gostaria de esclarecer(rsrs), que em nenhum momento pretendi magoá-la, ou seja, identifico como ruído na comunicação, quando lhe perguntei de seu gosto pelos livros, através do Jinkings. Contudo, saiu-me providencial a provocação não intencional, porque esta é a D. Isa. Uma mulher forte, decidida, companheira, letrada, e por isso fiz questão de que constasse a sua observação. Em segundo lugar, os nomes citados na correspondência são personagens da História de nosso estado, como o do professor Francisco Mendes. Terceiro, aguardo o 'momento mágico' quando os dois se conheceram. E quarto e último, espero, idem, como surgiu a Livraria Jinkings. Vou dividir esta memória, em duas partes. Confira a primeira:

Uma Carta de Memória(I): Por Isa Jinkings

Falar do que Belém tinha e não tem mais é lembrar da minha casa, de meus pais e irmãos, de uma infância feliz, mesmo – e até por isso – na convivência de hábitos simples, um lar onde aprendemos, eu e meus seis irmãos, a dar valor a cada coisa, mesmo às pequenas coisas, e onde testemunhamos o amor de nossos pais, entre os quais nunca vimos o menor desentendimento. Que nos ensinaram, com seu exemplo, a ser honestos, a ser generosos, a ser verdadeiros.

Meu pai era um sábio. Falava sempre de sua 'santa terrinha', o Portugal de suas muitas histórias. Citava autores e livros, citava fábulas, cantava, desentoado, as cantigas folclóricas de sua infância. Foi um precursor do que chamamos hoje de método cooper, das caminhadas. Era um naturalista. Não comia açúcar, comia pouco sal. Em nossa mesa havia muita fartura de frutas e legumes. Era ativo, trabalhador, decidido, incansável. Apesar de tudo isso, morreu aos 61 anos. Nossa primeira grande perda.

Minha mãe era uma fada, bondosa, inteligente, tão perspicaz e intuitiva que decifrava o olhar de cada filho, adivinhava nossos pensamentos. Gostava de música, acompanhava a história política. Cantava para nós as mais belas canções de seu tempo. De fala macia e andar tão leve que parecia deslizar, suas mãos lindas eram também mãos de fada. Os trabalhos que fazia – bordados, crochê, bilro, tenerife, etc – eram deslumbrantes. Ninguém a ensinou, aprendeu tudo sozinha.

Foi nesse ambiente de amor e de paz que crescemos, nós sete. Nossa rua (Tamoios, entre Tupinambás e Roberto Camelier) era larga, com muitas mangueiras, debaixo das quais nós tomávamos deliciosos banhos de chuva ao mesmo tempo em que juntávamos as mangas que caíam aos montes. Eram casas grandes, com jardins floridos e quintais enormes. Todos os vizinhos se conheciam. As crianças, depois adolescentes, eram amigas, meninos e meninas. Brincavam juntas, bola, pião, papagaio, peteca; e também de roda, depois do jantar (até a hora que os pais chamavam pra entrar). Que lembranças! 'Essa menina que está na roda...', 'Senhora Dona Chancha...', 'Pai Francisco...', 'Bom-dia Vossa Senhoria...', 'Terezinha de Jesus...' e muitas mais.

Minha festa predileta era a quadra junina, quando fazíamos fogueiras para todos os Santos, de Sto. Antônio até São Marçal, no dia 30, em que as fogueiras eram de paneiros, e terminava todo aquele encantamento, até o próximo ano.

Soltávamos inocentes fogos, pulávamos fogueira. Era um deslumbramento, uma das mais belas recordações de minha infância e adolescência.

São essas algumas das muitas coisas que Belém não tem mais. Os vizinhos (absolutamente toda a vizinhança), sentados às portas de suas casas, confraternizando e trocando gentilezas, como as comidas da época: o munguzá, o aluá, a canjica, o bolo de macaxeira, de milho.

Bem pequeninos, eu e meu irmão mais novo (o mais querido) íamos ao 'Baluarte', na esquina da Mundurucus com a Tupinambás, com um vintém: 'Seu Artur, quero uma bala de cuba' (seu Artur Mesquita).

Todos viviam de portas abertas, ninguém usava cadeados, nem grades, muito menos cerca elétrica, que não existia.

Tinha meus 12 anos, era muito lourinha e todos me achavam bonita (sempre fui loura, até adulta). Lembro que aos domingos à tarde meu pai gostava de arrumar o quintal – podava as plantas, varria, organizava o galpão de ferramentas, etc., e eu adorava ficar com ele, enquanto todas as outras crianças brincavam na rua.

De manhã bem cedinho íamos à missa, ele e eu, na igreja de Santa Terezinha, no Jurunas. Minha mãe não ia, dizia que rezava em casa.

Aos 12 anos ainda brincava de boneca, eu e minha amiga (quase irmã Iacy - a médica, Iacy Nazaré). Aos 13 e 14 tive muitos apaixonados, mas sempre me recusava a namorar, por timidez, por medo. Tive alguns namoricos aos 14, mas foi aos 15 (no dia de minha festa de humanista do colégio Moderno, que coincidiu exatamente com o dia de meus 15 anos) que encontrei o amor de minha vida. Não vou falar (pelo menos agora), desse momento mágico, da teia incrível que o destino teceu em torno de nós dois, duas quase crianças que se viram envolvidas irremediavelmente nos fios dessa teia. Só vou resumir que esse amor durou 46 anos, e eu falo de amor, não só de convivência. E gerou cinco filhos, 15 netos e quatro bisnetos. Hoje a família é acrescida de genros, noras, ex-genros e ex-noras, todos muito queridos.

Também me perguntas se aprendi a amar os livros, a literatura, através do Jinkings (eu sempre o chamei Antônio e não sei se interpretei certo, mas achei uma colocação um tanto machista).

Bom, o meu amor me ensinou muitas coisas (também aprendeu outras coisas comigo), mas eu sempre li, desde criança. Lembro que foi minha irmã, Irene que me deu meu primeiro livro, do Érico Veríssimo – 'A vida do elefante Basílio' quando eu completava seis anos e já lia bem. Depois, devorava os livros da estante de nossa casa, a ponto de, às vezes, minha mãe mandar que eu parasse de ler para ajudar minhas irmãs mais velhas a cuidar da casa.

Era assim.

No curso ginasial, tive o privilégio de ser aluna da Ida Valmont (quantos textos escrevi, que eram lidos na sala, em voz alta, por ela!). Eu era a menorzinha da classe, comecei o ginásio aos 11 anos. No IEP, entrava quase em transe assistindo às aulas do inesquecível Chico Mendes de quem, encantada, voltei a ser aluna na faculdade (Letras).

Nós dois conversávamos sobre livros. Ele, muito curioso, já conhecia vários filósofos. Em seu blog há um texto que escrevi para a página da livraria, no qual falo de 'As dores do mundo'(http://livrariajinkings.blogspot.com/2009/10/um-depoimento-sobre-o-fundador-da.html). Quando éramos noivos, ele me deu dois cadernos que considero relíquias: um com poemas selecionados e copiados com sua letra linda, que já mostravam a grande sensibilidade e inteligência desse homem (um menino) que deu todo sentido à minha vida. Numa parte do caderno, só poemas dedicados às mães (ele perdera sua mãe muito cedo, e isso o marcara profundamente). O outro caderno era de pensamentos, citações dos filósofos que já lera.

Sua inclinação para a solidariedade, seu repúdio à injustiça, o conduziu ao Socialismo – foi fundador, ao lado do admirável Cléo Bernardo, do PSB (Partido Socialista Brasileiro). Cléo presidente e ele secretário geral. Do mesmo faziam parte também Jocelyn Brasil, José de Ribamar Darwich, Julio de Alencar, Gilberto Danin, Manoel Bulcão e outros que não lembro.

Que bela campanha fizemos para o Cléo, candidato a Prefeito, e depois para o Jinkings a vereador. Ele era jornalista, vigoroso e combativo, e acharam um pretexto para negar o registro de sua candidatura, já em plena campanha. Pura perseguição política, a primeira de tantas. Travou, pela imprensa, muitas polêmicas em defesa de suas ideias, da coerência que foi uma das suas marcas mais fortes.

Notei agora que estou falando dele, muito mais do que de mim. É que nossa vida foi sempre tão interligada, que ao perdê-lo eu sobrevivi, porém mutilada. Nosso grande e saudoso amigo Jocelyn dizia que éramos como siameses.

A maioria de seus artigos nós escrevíamos juntos, ou eu copidescava.

Em 64, durante um mês peregrinando por diversos endereços, perseguido como uma fera (o 'perigoso comunista, ex-presidente do famigerado CGT (Comando Geral dos Trabalhadores),,,'), nem um só dia deixamos de ter contato. Nossos parentes e amigos foram tão leais, que eu conseguia, através de esquemas inteligentes, mandar-lhe os jornais, revistas, roupa lavada, alimentos, e trocávamos bilhetes. Minha mãe, toda a família maravilhosa, foram de uma solidariedade absoluta. Nossos cinco filhos – a mais velha com 10 e a mais nova com três aninhos – sabiam da verdade por mim e se orgulhavam do pai.

A menina sensível e romântica que eu era virou uma leoa.

30 dias após o golpe, Jinkings se apresentou e foi preso com dignidade. Decidiu fazê-lo pela ameaça de demissão por abandono de emprego. Pensando na família, principalmente.

A sanha dos milicos já tinha serenado, e na prisão eu o abasteci constantemente de livros, e consegui com o comandante da 5a. Companhia que ele se alimentasse da comida de casa, que eu mesma levava, todos os dias. Durante os meses em que esteve no cárcere, eu falei com advogados, com os coronéis a quem estavam ligados os seus processos, com o general comandante, da Região, com diretores do Basa. Até a Madre Superior do colégio Sta. Maria de Belém, onde nossas filhinhas estudavam, me acompanhou numa de minhas idas ao Quartel General. Jamais imaginei que, tímida como era, encontraria essa força, acho que nascida do amor e do respeito por ele, por seu idealismo tão autêntico.

Fomos companheiros, fomos cúmplices – em casa, na formação de nossos filhos, na vida profissional, na militância política. Se eu o ajudei como jornalista, ele me apoiou e acompanhou no período em que lecionei, língua e literatura. Participamos juntos de todas as lutas pela legalidade do Partido Comunista, na grandiosa campanha de filiação após a legalidade conquistada, na conquista de assinantes para o jornal Voz da Unidade. Ele era o presidente do Partidão, o querido presidente; eu sempre fui dirigente, sempre na Executiva, ao lado de companheiros valorosos como o inesquecível José Braz, como Mariano Klautau, como Alfredo Oliveira.

Isa

(postado por Cris Moreno no blog Escrita Marginal, no dia 31/03/2011 às 15h40)